O filme, uma das obras-primas de Federico Fellini, situa-se em 1914, antevéspera dos conflitos que desencadearam a I Guerra Mundial. Para provocar um deslocamento àquele ano, Fellini inicia o filme como um documentário antigo, nos primeiros minutos são mostradas imagens em tons amarelados, mudas, com legendas, escutamos apenas as engrenagens do projetor. Em seguida, uma entrada triunfal das cinzas de Edmea Tetua (Janet Szuman). Um cruzeiro fúnebre levará as suas cinzas para serem dispersas no mar da Grécia. O jornalista Orlando (Freddie Jones), que representa Fellini (basta ver as escolhas dos chapéus típicos do diretor ao início do filme), será o nosso guia nesta viagem, descrevendo as classes deste navio-mundo: a elite, os trabalhadores e o lumpesinato representado pelos exilados sérvios, recolhidos do mar como refugiados de guerra. Ao final, propositadamente, Fellini nos lembra que tudo é apenas um filme, quando abre, ao final, o set de filmagem. Como diria Orlando na solidão de sua cabine: “Isso não é nada. Apenas reflexões que anoto ao acaso. Uma espécie de diário. Sim, eu escrevo, conto coisas. Mas o que posso contar, afinal? Uma viagem de navio? A viagem da vida. Mas isso não se conta, se faz. E é só.”
Revista Filosofia Ciência e Vida ano IV - n° 47
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