Eu nunca insistirei o suficiente em quanto antipatizo com a expressão "cinema silencioso".
Cinema nunca foi silencioso. Foi mudo. Sempre teve acompanhamento musical. Mesmo que não tivesse haveria o ruído do projetor, ou algum engraçadinho fazendo piada, ou uma expressão de espanto e medo.
Mas não importa: a Jornada do Cinema Silencioso é, de longe, o grande evento anual da Cinemateca Brasileira.
E a quarta jornada começa agora no dia 6 de agosto.
Será dedicada, basicamente, ao cinema sueco, que foi uma das principais cinematografias da época, de maneira que vamos ter filmes de Victor Sjostrom, Maurtiz Stiller, "A Feitiçaria Através dos Tempos", de Benjamin Christensen, Gustav Molander, para ficar só com os que eu conheço. Primeiro time.
Do Brasil entra "Lábios sem Beijos", feito por Humberto Mauro para a Cinédia e que a Cinemateca constata ser o único filme realmente mudo da Cinédia.
A seção americana terá Raoul Walsh, Allan Dwan, Victor Fleming. Impossível passar ao largo.
O perigo: as muitas cópias com viragem e tingimento, que matam o belo branco e preto. Alegar que passavam assim no original não me consola.
Como que para comprovar que os filmes não são silenciosos, há acompanhamento musical em ao menos uma das sessões de cada filme. Quem coordena essa parte é Livio Tragtenberg e a norma é uma cravo e outra na ferradura, quer dizer, uma música é legal porque acompanha o filme, outra é ruim, porque se impõe ao filme, surge como se ela fosse o verdadeiro espetáculo e o filme um mero acompanhamento. Vamos ver se neste ano chagemos perto dos 100% de acerto.
E a verdade é que São Paulo vai bem ultimamente: houve há pouco uma gloriosa mostra Ozu no CCBB que eu, viajando, não pude acompanhar. Mas houve.
Seria interessante se a Cinemateca, que tem uma programação habitualmente bem deficiente, pegasse carona, digamos, nas mostras, ou em algumas mostras do CCBB, já que o auditório de lá é terrivelmente pequeno, enquanto a Cinemateca tem ao menos uma sala espetacular.
Mas isso é uma digressão. Quem gosta de cinema sabe que a base de tudo está lá, no mudo. Vamos aproveitar.
Por Inácio Araujo / Uol Cinema
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