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terça-feira, 26 de junho de 2012
CineOP denuncia descaso com acervo audiovisual
CineOP denuncia descaso e falta de planejamento para preservação de acervo audiovisual
Governo federal garante que solução do problema é prioridade
Sérgio Rodrigo Reis - EM Cultura
O Cortejo de arte, que já se tornou marca da Mostra de Cinema de Ouro Preto, coloriu as ruas da cidade histórica mineira no sábado
O cinema brasileiro viveu, até bem pouco tempo, o seguinte dilema: falava-se muito da necessidade de realização de mais filmes, sobre as dificuldades de produção, de financiamento e difusão, mas quase nada sobre o que fazer com os audiovisuais depois de eles saírem de cartaz. Resultado: boa parte da memória visual do país se deteriorou ou se perdeu em instituições, acervos familiares e de empresas geradoras de conteúdo, como as emissoras de televisão. Os personagens envolvidos na questão só agora parecem começar a acordar para a real dimensão do problema. A boa acolhida dos debates, discussões e exibições de filmes restaurados durante a sétima edição da Mostra de Cinema de Ouro Preto (CineOP) é prova do aumento da preocupação.
No fim de semana, a cidade histórica mineira foi palco de diversos exemplos. As exibições de obras antigas restauradas ficaram lotadas, com gente se acomodando assentada no chão ou em pé, tanto no Cine Vila Rica, quando no cinema ao ar livre, montado na Praça Tiradentes. Os debates, no Centro de Convenções, também estavam cheios de jovens, pesquisadores e autoridades preocupados em buscar alternativas para não deixar a memória visual nacional se esvair, como vem ocorrendo. O cineasta Gustavo Dahl, que recebeu homenagem póstuma do evento (recebida por sua filha, Catarina Dahl), sempre lembrava que “só 7% dos filmes brasileiros do cinema mudo sobreviveram à passagem do tempo.” A principal discussão sobre o problema ocorreu no debate sobre o panorama atual da preservação audiovisual.
Um dos pontos cruciais levantados foi de que, dificilmente, se dará conta da preservação das obras caso não se planeje a manutenção desde o início da elaboração do audiovisual. O poder público, representado por entidades como a Cinemateca Brasileira, já reconheceu sua incapacidade. A instituição, com sede em São Paulo, tem recebido acervos importantes, como o de fotos da antiga TV Tupi. “Temos total consciência de que não daremos conta de tamanha demanda. O desafio é enorme, pois sempre se pensou pouco em como manter essa memória, não temos garantia orçamentária mínima para planejamento a longo prazo”, afirma Carlos Magalhães, diretor-executivo da Cinemateca. O quadro técnico incompleto é outro empecilho.
Condições precárias A solução ainda parece estar distante. Atualmente, como informou a secretária do Audiovisual do Ministério da Cultura, Ana Paula Santana, cerca de 80% dos filmes brasileiros estão se perdendo. Só os 20% restantes são mantidos em boas condições. “Nem todos os produtores têm a sensibilidade de que aquilo precisa ser preservado”, afirma. O filme é feito, exibido e depois guardado, na maioria das vezes em condições precárias. “Os rolos de filmes muitas vezes permanecem se avinagrando na casa dos realizadores”, diz ela, citando o processo de deterioração ocorrido com boa parte das cópias das películas em 35mm.
Na televisão, a preocupação com a memória também tem sido pequena. Basta citar exemplos da falta de imagens das produções das extintas redes Tupi, Itacolomi e, mais recentemente, da Manchete. Como não houve o cuidado de conservar as obras devidamente, quando os conteúdos foram gerados, boa parte se perdeu. O problema permanece o mesmo. O governo teme pelo futuro. “A preservação do audiovisual se tornou prioridade estratégica no Ministério da Cultura”, anunciou em Ouro Preto a secretária do Audiovisual. “Não é uma ação barata, temos dificuldades também na formação de profissionais, mas aqui entra nossa vontade de construir uma política pública de estado a longo prazo.” A distância ainda é enorme entre a teoria e a prática.
Tensão Além de acusar a Cinemateca Brasileira de centralizar suas ações, o público e representantes de entidades de classe presentes na CineOP reclamaram de empecilhos para acessar os conteúdos audiovisuais recuperados e as tecnologias de preservação. Os responsáveis pela Cinemateca rebateram dizendo que, na realidade, falta organização das demais entidades. Apesar da tensão existente entre o poder público e a sociedade civil organizada em relação ao tema, é inegável que avanços ocorreram. O documentário Mulher de longe é exemplo.
Em 1949, o mineiro Lúcio Cardoso começou a realizar esse filme. Por questões financeiras, nunca conseguiu terminá-lo. Depois de sua morte, os originais foram recuperados pela Cinemateca Brasileira e o amigo do cineasta, o diretor Luiz Carlos Lacerda, resolveu retomá-los. O resultado foi apresentado na Mostra de Cinema de Ouro Preto. O filme mescla imagens de época às cenas da pesquisa feita pelo cineasta na Cinemateca, além de reconstituição das etapas da preservação. Outro exemplo que chegou às telas foi Dino Cazzola – Uma filmografia de Brasília. Os diretores Andréa Prates e Cleisson Vidal fizeram ótimo documentário com os 30% restantes do magnífico acervo deixado pelo cinegrafista que dá nome à fita. Recentemente, os rolos foram recuperados, mas a maioria se deteriorou.
Cortejo de arte
Ouro Preto parece ter abraçado de vez a CineOP. Nesta sétima edição, a cidade está cheia de turistas, vários atraídos pela agenda da Mostra de Cinema. A grande mobilização em torno do Cortejo de arte, que tomou conta das ruas históricas na manhã de sábado, é prova disso. Quem perdeu a programação ainda tem chance de participar de debates e exibições de filmes, que ocorrem até hoje em diversos espaços. Informações: www.cineop.com.br.
Análise da notícia
Contagem regressiva
Preservar a memória audiovisual brasileira é batalha que o país parece estar perdendo, como demonstraram filmes e debates da CineOP. As políticas públicas e iniciativas privadas não têm dado conta da solução ao problema. Os discursos são calorosos e enfáticos, as soluções estão na ponta da língua, mas a prática não acompanha o falatório. A cada dia que passa, uma imagem do passado se deteriora e se apaga definitivamente em acervos mal-acondicionados. O tempo não perdoa a retórica e a contagem é regressiva.
* O repórter viajou a convite da organização do evento.
Fonte: Portal Uai.com
http://www.cursosraizesculturais.com.br
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