quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Cinema brasileiro marca presença com números de estréias cada vez maior

Cinema brasileiro marca presença com número de estreias cada vez maior
Produção nacional já figura entre cifras de bilheterias e eternas vitórias de blockbusters no ranking dos filmes mais assistidos

Gracie Santos - EM Cultura - Portal Uai
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Llucia Faraig/ El Deseo
A pele que habito, com Antonio Banderas e Elena Anaya, confirma a incrível capacidade de Almodóvar como contador de histórias
Na reta final do fechamento do ranking do cinema em 2011, Amanhecer, filme da saga Crepúsculo, desbancou a animação Rio em número de ingressos vendidos: 6,38 milhões. Será que isso realmente importa? Ou o importante seria o fato de as primeiras análises do mercado brasileiro, de acordo com a empresa especializada Filme B, revelarem arrecadação de R$ 1,4 bilhão, 16% a mais que no ano passado, com crescimento de 4% de ingressos vendidos?

Cifras, muitas cifras. Como costuma dizer o diretor da Filme B, Paulo Sérgio Almeida, números e estatísticas permitem tudo, além de variadas análises. Podem ser facilmente manipulados em defesa ou ataque disso e daquilo, dependendo do enfoque que se queira dar.

Afinal, não há qualquer surpresa que blockbusters, seja com personagens de carne, osso, sangue e dentes compridos ou animações em alta tecnologia, disputem o topo da lista. De fato, é sempre muito bom que mais pessoas frequentem as salas, ainda que para ver obras de menor valor. Cria-se a cultura de assistir, cada vez mais, a filmes brasileiros.

Mas o melhor não consta em muitas análises sobre o “mercado”: quem der uma breve passada de olhos pela lista de estreias deste ano vai notar a grande relação de fitas nacionais – quase 100. Verdade que algumas são apenas medianas, mas quantos longas gringos medianos não estreiam por aí? Vale também para a formação de público. O Ministério da Cultura (MinC) já revelou que pretende lançar pelo menos 150 produções nacionais por ano (torcida não falta). Em 2011, entraram em cartaz 96, contra 76 em 2010. Nada mal. Se não são números competitivos com os blockbusters, revelam que a produção brasileira continua viva e pulsando.
Obra-prima
Não há dúvida: o grande criador do cinema mundial da atualidade é Pedro Almodóvar . Poucas vezes são vistas pessoas de credos tão distintos serem tocadas pelo mesmo filme. É assim com A pele que habito, que ultrapassa as fronteiras da imaginação, referendando a excelência do contador de histórias espanhol. O filme leva o espectador a uma viagem de suspense por trama que envolve experimentos científicos politicamente incorretos, disputa e traição em família, segredos sobre paternidade, problemas psíquicos, suicídio e estupro. Cruel demais? Sim, mas brilhante.
Genial
Até mesmo quem não gosta de Woody Allen se apaixonou por Meia-noite em Paris, candidato ao Globo de Ouro nas categorias filme, diretor, roteiro e ator (Owen Wilson, foto). A deliciosa viagem no túnel do tempo nos leva à Paris dos anos 1920, com Scott e Zelda Fitzgerald, Ernest Hemingway, Gertrude Stein, Pablo Picasso, Salvador Dalí, T. S. Eliot, Man Ray, Luis Buñuel e tantos outros. A grande questão de Allen é: por que as pessoas nunca estão satisfeitas com a época em que vivem? Por que temos a sensação de que a intelligentsia “frequentou” gerações anteriores e que as atuais estão emburrecendo? Verdade ou não, fato é que a sessão nostalgia de Allen faz bem à alma.
Alta tensão
A inevitabilidade do destino é tema de Melancolia (foto), de Lars von Trier. Homens e deuses, de Xavier Beauvois, mostra como as vertentes do cristianismo poderiam ser, caso não houvesse a obsessão pelo dogma e pelo pecado. Enquanto tenta encontrar seu lado obsceno, a bailarina Nina (Nicole Portman) vive conflitos internos que ameaçam sua sanidade em Cisne negro. A atriz levou o Oscar por essa atuação. Em Biutiful, Aleajndro Conzález Iñárritu conta a história de um homem (Javier Bardem) em eterno conflito com a paternidade, o amor, o crime e a culpa.
Arte pura
Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes deste ano, A árvore da vida (foto), de Terrence Malick, traz Brad Pitt em atuação impecável. O ritmo lento e as imagens lisérgicas entremeiam a vida de uma família (com pai extremamente duro) e cenas que remetem à origem do universo e – há quem diga – a seu possível fim. Como em Além da linha vermelha (1998), que faturou o Urso de Ouro em Berlim, Malick se vale de linguagem nada convencional para revelar sensações e sentimentos dos que buscam explicações e argumentos para se confortar durante a (nada fácil) passagem pela vida. Algumas cenas têm plasticidade incomum; as interpretações são verdadeiras obras de arte.
Passou batido
Uma pena: Confiar (Trust), de David Schwimmer, entrou em cartaz em apenas uma sala e ficou em exibição por pouco tempo em BH. Schwimmer, que se tornou conhecido como o personagem Ross Geller da série de TV Friends, surpreende como diretor e dá a medida exata à atuação da atriz Liana Liberato como Annie, adolescente que se apaixonada por um cara na internet. O mesmo vale para o galã Clive Owen, no papel de pai da garota, que se transforma visivelmente ao longo da trama. A tensão psicológica crescente e não é gratuita. Coloca corretamente questões sobre as consequências das novas relações iniciadas ou pautadas no mundo virtual.
Brasucas
Tudo começou com a surpresa do Oscar: a indicação do documentário Lixo extraordinário, sobre a obra de Vik Muniz. Na extensa lista de estreias nacionais vieram, não necessariamente nessa ordem, o sucesso de público da comédia De pernas pro ar (para quem gosta do gênero); o supostamente polêmico Bruna Surfistinha (com Deborah Secco mostrando pouco de atriz e muito da boa forma); Vips – Histórias reais de um mentiroso, com o incrível Wagner Moura (foto); e o imprescindível O mineiro e o queijo (documentário importante). Sem falar no terno O palhaço (tão mineiro). Destaque ainda para a primeira animação 3D nacional: Brasil animado.

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