TRAILER DO FILME "O DISCURSO DO REI"
Muita gente, inclusive pessoas da própria Academia, andou lamentando a proliferação de palpites e análises na mídia, que, segundo seu ponto de vista, estariam “tirando o suspense” da festa. Mas na verdade é a própria Academia que está ficando cada vez mais previsível.
Ninguém sabe disso melhor que Harvey Weinstein, o produtor que dominou os Oscars nos anos 1990 e que, depois de um longo e complicado ostracismo, voltou a dar as cartas este ano com "O Discurso do Rei". Há 20 anos Weisntein sabe o que a Academia quer: um filme bem feito, com design cuidadoso, de preferência de época e com atores britânicos, com temas que não incomodam ninguém, tem alta voltagem sentimental e uma dose de humor e oferecem um final edificante.
Some-se estes elementos a uma campanha infatigável, com muito corpo a corpo , contatos pessoais e amigáveis, e você tem uma noite do Oscar no bolso. Não falhou nos anos 90 e, mesmo depois de perder a Miramax, afundar-se em dificuldades financeiras e ficar na geladeira, Weinstein prova que não falha agora.
A Academia é previsível porque joga sempre pelo meio, laureando muito mais facilmente o óbvio que o realmente inovador.
"A Rede Social" é um filme de peso, pensado em todos os seus aspectos, levando a questão do poder e do controle para uma nova paisagem humana, a dos “cidadãos kane” da internet.
"A Origem" (que teve os mesmos quatro Oscars de "Discurso", mas todos técnicos) discutia essencialmente a propria natureza do cinema, seu papel de manipulador do inconsciente, explorando a própria linguagem do filme como narrativa. Isso é muito para merecer o consenso dos 6 mil votantes - e o sistema de votos do Oscar privilegia o consenso.
TRAILER DO FILME "A ORIGEM"
A Academia - composta inteiramente por profissionais de cinema, é bom lembrar - parece ver os realizadores como pertencentes a dois grandes grupos: os que fazem filmes que dão muito dinheiro, filmões populares que em geral estreiam no meio do ano; e os sérios, que fazem filmes de época, com design cuidadoso, atores britânicos, temas ousados e/ou comoventes, etc.
A hipótese de existir alguém que faça ao mesmo tempo filmes populares que dão muito dinheiro e filmes sérios com temas ousados - ou, pior ainda, que o filme sério com tema ousado seja o mesmo filme popular que dá dinheiro - é algo que ela não consegue processar.
Steven Spielberg penou nessa categoria durante muitos anos - até fazer um filme sobre o Holocausto com dois atores britânicos, "A Lista de Schindler". Nesta categoria estão, hoje, Darren Aronofsky, David Fincher… e Christopher Nolan.
Nos dias que antecederam o Oscar, falou-se muito na indústria sobre como tornar o prêmio mais competitivo com relação a seus muitos rivais, reafirmando sua soberania como o “padrão de ouro” e conquistando novas plateias. De todos as sugestões que li, uma ficou na minha cabeça: transformar todos os acadêmicos aposentados, que há mais de 10 anos não participam ativamente da industria, em não-votantes.
Ironicamente, a pequena e tão apedrejada Associação de Correspondentes estrangeiros de Hollywood (Hollywood Foreign Press Association) já faz isso há muito tempo: para votar nos Globos de Ouro tem-se que ser “ativo”, estar efetivamente cobrindo a indústria.
A mesma lógica faria bem ao Oscar, dando voz mais eloquente a quem está realmente engajado no presente, que compreende os temas, tendencias e questões do nosso tempo.
Fonte : http://www.cinema.uol.com.br/
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